O futuro da rotulagem dos têxteis na UE

Autora:
Luísa Ferreira
Product Technician, SGS Portugal
 

Sabia que as mais recentes mudanças na rotulagem dos têxteis podem impactar a sustentabilidade e o consumo, melhorando ainda a informação ao consumidor?

De acordo com a Euratex, a Confederação Europeia do Vestuário e Têxtil, o panorama da legislação da moda europeia tem um enquadramento legal composto por vários regulamentos que impactam a forma como as marcas e os fabricantes de moda nacionais e internacionais operam ao longo da sua cadeia de abastecimento. Regras que podem vir a mudar em breve, com a revisão anunciada do Regulamento 1007/2011, que tem como foco a rotulagem dos têxteis.

Rotulagem dos têxteis: novas regras em perspetiva

Atualmente, estas regras ficam-se pela composição das fibras que integram os produtos têxteis, o que tem dado origem a uma disparidade em termos de requisitos de rotulagem entre os Estados-Membros, aumentando a complexidade da informação disponibilizada ao consumidor e causando problemas ao nível do mercado interno.

Não só o desenvolvimento de novas fibras e de tecnologias de reciclagem, que se tornam rapidamente disponíveis, exigem uma melhor identificação em termos de rótulo, como os avanços recentes tornam cada vez mais imperativa a criação de rótulos digitais, hoje mais disponíveis e a preços acessíveis.

É por isso que a Comissão Europeia está a considerar a introdução de um conjunto único e uniforme de regras sobre os requisitos de rotulagem para os têxteis e produtos afins, em áreas como as roupas, acessórios de vestuário e de produtos domésticos/interiores.

Requisitos que, tendo em conta a Estratégia da União Europeia (UE) para os Têxteis Sustentáveis e Circulares, prometem estar mais focados na informação ambiental.

Objetivos da revisão do Regulamento 1007/2011

Os principais objetivos da revisão incluem:

• Informação completa e clara - assegurar que os consumidores têm acesso a todas as informações relevantes sobre os produtos têxteis e afins de forma precisa, inteligível e comparável, sem informação enganosa;
• Redução de custos para a empresa - reduzir os custos de conformidade para as empresas e garantir a clareza e a coerência regulamentares, em conformidade com a legislação atual e os futuros desenvolvimentos regulamentares.
• Sustentabilidade e Inovação - promover a utilização de materiais reciclados e a adoção de práticas sustentáveis no setor têxtil.

O que já foi feito

Em dezembro de 1993, foi lançada uma consulta pública, que decorreu até abril de 2024, data a partir da qual foram analisados os contributos recebidos. 

Foram ainda realizados workshops com as partes interessadas, estando prevista para o final de 2024 ou 2025 a apresentação das novas regras.

Rotulagem digital: futuro promissor

Além do rótulo físico, como já foi dito, a Comissão Europeia está a considerar a possibilidade de introduzir um rótulo digital para os produtos têxteis. Um rótulo que poderá aumentar o leque de informações, em diferentes idiomas, assim como versões que facilitem a leitura.

As vantagens serão muitas, a começar pelo preservar da informação, uma vez que, atualmente, um dos principais desafios quando se trata da rotulagem de produtos têxteis é garantir que a informação não se perde no caso de a etiqueta ser cortada, danificada ou ficar desbotada ao longo do tempo, sobretudo tendo em conta que, de acordo com a GINETEX, a associação internacional responsável pela etiquetagem de cuidados têxteis, 62% dos cidadãos da UE cortam as etiquetas. 

Além desta questão, os rótulos físicos têm também de ter elevada qualidade, ser legíveis e não causar irritação aos consumidores, tudo características que tornam apelativa a opção digital. 

O que é que isto significa em termos de sustentabilidade?

Ao incluir informação ambiental mais detalhada nos rótulos, os consumidores são capacitados para fazerem escolhas mais informadas, favorecendo produtos com menores impactos ambientais. Uma transparência que pode impulsionar a procura de têxteis sustentáveis.

Ao mesmo tempo, a inclusão de novas fibras, sobretudo aquelas provenientes de fontes recicladas, incentiva a utilização de materiais reciclados na produção têxtil, o que reduz a dependência de recursos e apoia os princípios da economia circular.

No que diz respeito à introdução da rotulagem digital, esta pode fornecer informações abrangentes sem sobrecarregar as etiquetas físicas, o que pode incluir dados sobre a pegada ambiental, os processos de produção e as opções de fim de vida dos têxteis, promovendo padrões de consumo mais sustentáveis.

Os requisitos de rotulagem uniformes em toda a UE podem agilizar a conformidade das empresas, facilitando a adoção de práticas sustentáveis e garantindo que todos os produtos cumprem as mesmas normas ambientais.

Tudo isto e, ao mesmo tempo, ao fornecer informações claras e acessíveis, o regulamento revisto pode educar os consumidores sobre os impactos ambientais das suas escolhas têxteis, promovendo uma cultura de sustentabilidade.