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A digitalização do trabalho e os novos riscos para a segurança e saúde no trabalho

Blog SGS PortugalCibersegurança11 Dec 2024

Autor:
Paulo Alexandre
IT Director, SGS Portugal
 

A recente profusão de novas tecnologias emergentes, da Internet of Things, Big Data, Cloud Computing, realidade aumentada, inteligência artificial, robótica colaborativa, entre muitas outras, traduz-se em impactos profundos sobre o mundo do trabalho. O que significa isso para a segurança e saúde dos trabalhadores?

O relatório da União Europeia “Foresight on new emerging occupational safety and health risks associated with digitalisation by 2025” aponta tanto para uma aceleração da tendência para a digitalização do trabalho como para a ocorrência de impactos de relevo na natureza e locais de trabalho durante os próximos dez anos.

Mas se o mesmo relatório aponta para o surgimento de novas oportunidades de negócio e aumentos de produtividade e ganhos de eficiência, ele também alerta para o provável incremento das desigualdades entre benefícios e desvantagens para os trabalhadores.

Quais os principais riscos para os trabalhadores face à digitalização do trabalho?

A prevalência da tecnologia e uma progressiva digitalização do trabalho pode resultar na alteração de sistemas, equipamentos e ferramentas utilizadas; em alterações organizacionais dentro das empresas; alteração de relações hierárquicas e de modelos de gestão nas empresas; e mudanças na composição da força de trabalho, incluindo nas capacidades e formação necessárias.

Mais concretamente, a transformação do trabalho pela maior digitalização apresenta novos riscos potenciais para a saúde e segurança dos trabalhadores:

  • A possível remoção de agentes humanos de situações e ambientes de produção perigosos poderá ser acompanhada de um maior número de interações homem-máquina, inaugurando novos riscos físicos, mas também introduzindo opacidade no que toca aos algoritmos e fatores de decisão dos próprios equipamentos mecânicos e sistemas automatizados.
  • Ameaças psicossociais e outros fatores relacionados com o aumento dos ritmos de produção e a deslocalização do trabalho.
  • Aumento dos fatores de stress, particularmente como resultado da maior monitorização e vigilância dos trabalhadores, pelas exigências de disponibilidade, mas também, fruto do trabalho remoto, do esbatimento de fronteiras entre vida profissional e vida familiar.
  • Aumento de problemas de saúde relacionados com postura, ergonomia e visão, muito devido ao trabalho remoto em ambientes de lazer (ex.: casa, café) a priori menos preparados para o trabalho do que um ambiente de escritório, passível de controlo pelas autoridades de segurança no trabalho.
  • Aumento da fadiga física e riscos cognitivos associados à interação homem-máquina e adaptação dos agentes humanos.
  • A digitalização e deslocalização do trabalho podem também significar o aumento de empregados por conta própria, mesmo em situações difusas, o que colocará um maior número de indivíduos fora da atual regulação e auditorias da segurança e saúde no trabalho.
  • A digitalização do trabalho poderá ser acompanhada de carreiras menos lineares, com mais mudanças de empregador, e também significar carreiras profissionais mais longas, o que se pode traduzir em ameaças exponencias para a saúde.
  • A digitalização do trabalho significa também a geração de uma grande quantidade de informação sobre as atividades e até mesmo o corpo dos agentes humanos (ex.: equipamentos individuais para medição da fadiga). O direito de acesso a esses dados, questões de privacidade de dados, ou mesmo ciberataques constituem novas ameaças à segurança dos trabalhadores

Efetivamente, a digitalização do trabalho está longe de significar apenas novas tecnologias e ferramentas de trabalho. Do ponto de vista da saúde e segurança no trabalho, esta conjuntura tecnológica, marcada por impactos profundos que vão da alteração da natureza do próprio trabalho à mudança nas estruturas organizacionais atuais e no estatuto dos trabalhadores, poderá fazer surgir uma grande multiplicidade de riscos para a saúde e ameaças à segurança dos trabalhadores.

Importa, porém, referir que a tecnologia, em si, não deve ser considerada “boa” ou “má”. A identificação destes novos riscos para a saúde e segurança no trabalho deve permitir, convocando também o próprio estado da tecnologia atual, aproveitar as oportunidades abertas pela digitalização e assegurar uma correta gestão e aplicação da tecnologia, sempre com respeito pelos agentes humanos e zelando pela sua saúde e segurança.

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