Importância da cantina escolar: nutrição e desempenho académico

Autora:
Renatta Barreto
Health and Nutrition Technician, SGS Portugal
 

A qualidade da alimentação na cantina escolar impacta a saúde e o desempenho dos alunos. Saiba mais sobre a importância de uma nutrição equilibrada.

“A qualidade e a quantidade de géneros alimentícios, sólidos ou líquidos, ingeridos em meio escolar tem um impacto enorme na saúde e bem-estar dos jovens.” A afirmação consta de um documento do Ministério da Educação que serve de referencial para as escolas no que diz respeito à questão da alimentação. 

E é fácil perceber o porquê desta preocupação: se é na escola que as crianças e jovens passam grande parte (senão a maioria) do seu tempo, é também aí que ingerem uma parte substancial de alimentos, senão a maior parte da alimentação diária da criança, o que confere à cantina escolar um papel importante. 

Desde os anos 80 do século XX que o Ministério da Educação tem prestado atenção às questões da alimentação, através da criação de regulamentos com normas e instruções sobre alimentação equilibrada para os refeitórios escolares. No entanto, sucedem-se as queixas e as notícias de questões associadas à qualidade da alimentação servida nestes espaços. 

Mas qual o verdadeiro impacto daquilo que as crianças comem? São vários os estudos que confirmam que uma boa nutrição durante a infância e a adolescência é fundamental para garantir um crescimento, saúde e bem-estar ideais, reforçando que as práticas alimentares saudáveis no início da vida têm um impacto imediato no crescimento saudável e ajudam a prevenir as doenças não transmissíveis mais tarde na vida, um benefício que se estende ao longo das gerações. 

E se, ao nível da saúde, esse é um impacto tangível, uma boa alimentação na infância é também essencial para o desempenho escolar e para os resultados académicos dos alunos, assim como para o seu comportamento. Não parecem restar dúvidas que as dietas alimentares podem afetar o comportamento e o desenvolvimento dos alunos, uma vez que os alimentos que beneficiam os nossos corpos também beneficiam as nossas mentes.

Certos nutrientes desempenham um papel fundamental no desenvolvimento e funcionamento do cérebro e o consumo de outros não só prejudica a saúde, como pode causar sentimentos de irritabilidade, ansiedade, confusão, depressão e falta de memória. Uma dieta saudável apoia o humor estável, uma melhor concentração e um bom bem-estar geral, resultados essenciais para o sucesso das crianças na escola e na sociedade. 

Vários estudos publicados mostram que menus cuidadosamente planeados reduzem comportamentos disruptivos e evitam as faltas, confirmando ainda que os alunos das escolas primárias e secundárias tendem a comportar-se comparativamente melhor nas aulas e mantêm-se mais "concentrados" à tarde, após um almoço nutritivo.

Há depois outras pesquisas que mostram que programas de refeições escolares saudáveis melhoram o desempenho académico dos alunos.

Os benefícios de uma alimentação equilibrada na cantina escolar

Maior assiduidade 
Refeições nutritivas não só tornam os alunos mais saudáveis, mas aumenta a sua disponibilidade para aprender, o que se traduz em menos faltas e uma maior assiduidade. Assim, os alunos terão mais tempo nas aulas e terão menos interrupções na aprendizagem ao longo do ano letivo. 

Melhor comportamento 
Vários estudos já confirmaram que a malnutrição leva a problemas de comportamento e que o açúcar tem um impacto negativo no comportamento das crianças. Efeitos que podem ser neutralizados quando as crianças consomem uma dieta equilibrada que inclui proteínas, gorduras, hidratos de carbono complexos e fibras. 

Melhor desempenho académico 
Cerca de 20% das nossas calorias diárias são utilizadas como combustível para o nosso cérebro, um trabalho que queima, de facto, muitas calorias. No caso das crianças, para que o seu cérebro se desenvolva são necessários nutrientes essenciais e uma alimentação equilibrada, sem a qual o seu desenvolvimento saudável é colocado em risco. 

Mais, a escassez de nutrientes pode reduzir a produção de células cerebrais, afetar o tamanho e a complexidade das células e até levar a uma comunicação menos eficiente entre as células cerebrais. Isto pode resultar num desenvolvimento mais lento da linguagem, na diminuição das capacidades motoras finas e num QI mais baixo, o que causa impactos negativos na vida da criança dentro e fora da sala de aula.

Aqui, a investigação confirma que uma dieta de melhor qualidade está associada a um melhor desempenho nos exames.

No que diz respeito à saúde mental, há ainda estudos que já demonstraram que vários contaminantes, como o chumbo, arsénio, PCBs, PAHs, entre outros, assim como alguns aditivos (aspartame ou parabenos), podem induzir perturbações mentais, incluindo depressão, ansiedade, esquizofrenia ou perturbação de hiperatividade e défice de atenção, pelo que se torna essencial não só uma avaliação dos alimentos disponíveis nas escolas, como ainda testes feitos à presença de pesticidas.