Pesticidas agrícolas e o impacto na produção, saúde e ambiente

Autora:
Elsa Rodrigues
Coordenadora de Laboratório H&N da SGS Portugal

Descubra os impactos dos resíduos de pesticidas agrícolas nos alimentos, os riscos para a saúde e como garantir a segurança alimentar. Saiba mais aqui. 

Em 2022, os dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) davam conta do uso de 3,70 milhões de toneladas de ingredientes ativos de pesticidas agrícolas, um valor 4% superior a 2021. Entre 1990 e 2022, a intensidade do uso de pesticidas por área de cultivo aumentou 94%, a utilização por valor de produção agrícola cresceu 5% e o uso por pessoa subiu 35%. E, ainda que desde 1990 a utilização de pesticidas na Europa tenha vindo a cair, os números continuam altos.

O crescimento do uso de pesticidas agrícolas

Ferramentas há muito tempo usadas na agricultura e na silvicultura para proteger as culturas de pragas, infestantes e doenças, os pesticidas são essenciais não só para a saúde vegetal, mas também para a segurança alimentar. E com a necessidade de aumentar a produtividade das culturas e de as proteger contra os inimigos já referidos, o uso de pesticidas generalizou-se. De facto, existem mais de 1.000 pesticidas utilizados em todo o mundo para garantir que os alimentos não são danificados ou destruídos por pragas, cada um com propriedades e efeitos toxicológicos diferentes.

No entanto, o seu uso excessivo e inadequado, sobretudo no que diz respeito aos pesticidas químicos, pode potenciar a acumulação de resíduos prejudiciais nos produtos. O que significa que podem ter um impacto negativo:

• no saúde do solo e na qualidade da água,
• na biodiversidade agrícola e no equilíbrio ecológico,
• na saúde vegetal, animal e humana. 

E torna ainda essencial as análises de pesticidas agrícolas, não só por motivos de conformidade regulamentar, mas também por questões de saúde. É que são vários os estudos que já demonstraram que a presença de resíduos de pesticidas agrícolas nos alimentos pode acumular-se no organismo humano, causando potencialmente riscos cumulativos para a saúde. E com efeitos adversos que podem incluir neurotoxicidade, desregulação endócrina, problemas reprodutivos e aumento do risco de cancro. 

O que justifica a elevada presença de resíduos de pesticidas nos alimentos?

A justificação para níveis elevados de resíduos de pesticidas nos produtos consumidos é variada: 

• A aplicação incorreta ou uso inadequado de substâncias;
• Quantidades excessivas aplicadas às culturas agrícolas;
• Colheitas feitas antes do tempo adequado para dissipação dos resíduos.

O certo é que esta presença de resíduos é mesmo considerada um dos principais obstáculos ao comércio mundial de produtos alimentares. E, seja por bioacumulação, inalação ou contacto com a pele, os seres humanos podem ser expostos a pesticidas quando consomem alimentos, água ou produtos de origem animal contaminados. 

Resíduos de pesticidas e saúde: riscos comprovados pela ciência

São vários os tipos de pesticidas agrícolas, pelo que são também diferentes as consequência associadas à sua exposição. 

Os inseticidas, sobretudo os organofosforados e carbamatos, apresentam riscos comprovados para a saúde, incluindo:

- Neurotoxicidade: bloqueiam uma enzima essencial para o sistema nervoso;

- Défices cognitivos: podem afetar a memória e o raciocínio;

- Doenças neurodegenerativas: a sua exposição prolongada foi associada às doenças de Parkinson e Alzheimer.

Muitos estudos associam também o uso excessivo de inseticidas a um risco aumentado de cancro, sobretudo colorretal.

No caso dos herbicidas, concebidos para atacar as ervas daninhas, podem atingir outras vegetações indesejadas, como gramíneas, arbustos ou até mesmo árvores, o que torna a sua presença em forma de resíduos nas culturas alimentares uma grande preocupação, tendo em conta os potenciais efeitos a longo prazo da exposição crónica a resíduos de herbicidas de baixo nível.

Nestes casos, a investigação científica associa-os à desregulação endócrina, confirmando que podem limitar ou interferir com as hormonas naturais do organismo, impactando potencialmente o desenvolvimento, a reprodução e o metabolismo. E associando-os ainda a um aumento do risco de alguns tipos de cancro.

Quando se trata dos resíduos de fungicidas, o alerta vai para as suas potenciais propriedades cancerígenas ou a sua capacidade de perturbação do sistema endócrino.

Quais os riscos dos pesticidas para o ambiente?

Além da saúde humana, os resíduos de pesticidas podem ter também consequências no ambiente, afetando a saúde do solo, a qualidade da água e os organismos que nestes habitam, o que se traduz num impacto na biodiversidade e na integridade do ecossistema.

O impacto para as empresas

A confirmação da existência de resíduos de pesticidas agrícolas acima dos limites regulamentares pode ainda ter um impacto importante na confiança do consumidor, que espera produtos alimentares seguros e saudáveis. Quando estas expectativas não são correspondidas, é a confiança na marca que fica em causa, o que se pode traduzir em consequências legais e financeiras: as empresas que não cumprem as normas sobre pesticidas podem enfrentar multas e recolha dos produtos, o que tem custos que impactam as suas situações financeiras e pode resultar ainda em restrições de acesso ao mercado, limitando a capacidade de exportar produtos para determinados países, o que vai afetar, inevitavelmente, as vendas e o crescimento.

É também a reputação de quem comercializa estes produtos que é posta em causa quando existem casos que envolvem a presença de resíduos de pesticidas, o que se traduz numa desvantagem competitiva.

Fica então claro que a presença de resíduos de pesticidas agrícolas em diversos produtos pode ter um impacto importante na saúde humana e animal, assim como no ambiente, o que enfatiza a urgência de ações que visem mitigar esses potenciais riscos. 

É por isso que existem regulamentos aos quais é imperativo obedecer, que impõem limites máximos de resíduos, para garantir a proteção da saúde do consumidor. E é também por isso que se realizam testes que determinam o cumprimento desses limites, essenciais para tornar os alimentos seguros e nutritivos.